É
possível um ser humano não sentir medo? É possível qualquer coisa que respira
não sentir medo da morte, do fim, da inexistência eterna? É possível alguém não
sentir medo da doença, de suas fraquezas, das obviedades do mundo?
Esta
semana relembrei que a morte está sempre por perto, que ela nos leva tudo, que
o tempo de todos termina. Esta semana relembrei de minhas fraquezas, de meus
medos, de minhas dores eternas. Como não sentir dor ao ver pais chorando a
morte de filhos? Como não sentir medo de não se encontrar um fim para essa dor?
Como não sentir medo das moiras do destino, que podem nos impor um futuro que
não desejamos?
Tenho
muitos medos, mas nenhum deles é maior do que o medo de mim mesmo, de minhas
perguntas intermináveis, de minha alma sempre inconformada, de minha fé que me
permite questionamentos até o limite da razão. Tenho medo de minhas fraquezas,
de que os outros as descubram, de meus fracassos, de minha consciência de que um
dia vou morrer, tenho medo de sentir medo, de um dia sofrer sem conseguir
controlar meus sentimentos, tenho medo de perder o controle, de cometer erros
que não consiga consertar.
Tenho
medo do que sou capaz de pensar e sentir, das coisas que posso questionar, de
minha falta de “normalidade” para duvidar e analisar tudo, de minha busca
incessante de sentido. Tenho medo de um dia causar medo, de desmascarar as
fraquezas de alguém, de revelar traumas que as pessoas não querem relembrar, de
escrever linhas que provoquem reflexão em quem não pode refletir.
Minha
fraqueza é ter tantos medos e não os respeitar, continuar apesar deles, questioná-los
até o esgotamento do que é racional, até o limite do que se consegue aguentar. O
reconhecimento das fraquezas retira o ser humano do mundo, o faz lutar não
apenas por instinto, o transforma em fortaleza pela não aceitação.
Um
dia ainda chego à pergunta final e inaceitável para a razão, ao fundamento
último das coisas e da existência, ao que me transforma no que penso que sou.
Há poucas coisas que ainda não consigo questionar, há poucos caminhos da alma
que ainda não tenho coragem de percorrer, há poucas dúvidas que ainda não ouso
perguntar. Tenho medo de muitas coisas, mas nada me aterroriza mais do que o
poder dos medos e da aceitação das fraquezas.
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