quarta-feira, 13 de março de 2013

NADA FUNCIONA EM SEGURANÇA PÚBLICA?

Robert Martinson - estudioso das políticas criminais e de segurança pública e das práticas penais - já nos anos 70 afirmou que em segurança pública e em políticas criminais nada funciona (nothing works).
E hoje, quando pensamos sobre a nossa segurança pública, o nosso sistema penitenciário, as nossas políticas criminais e o nosso Estado, temos exatamente a mesma impressão: que nada funciona. É apenas uma questão de observação e encontramos muitas pessoas com boa vontade, homens empenhados em fazer o melhor, políticos que buscam alternativas para melhorar a atual situação. Temos que admitir que existem pessoas de boa vontade no mundo.
Contudo, nada parece ter realmente efeito na melhoria do nosso modo de vida e, especificamente, na segurança pública. Às vezes me pergunto se realmente alguma coisa pode funcionar, pois se contratam mais policias e nada, constrói-se mais presídios e nada, aumentam-se as penas e nada, faz-se um plano novo de segurança e nada. Parece que existe uma contingência inefável em todas as questões relativas ao crime e à segurança pública.
Mas isso não é uma verdade absoluta (se é que essas existem), pois alguma coisa funciona em segurança pública e em políticas criminais, mas não do jeito que queremos. Temos que pensar nas causas, aceitar o tempo para as mudanças, não nos iludir com as medidas. A lógica do absurdo não pode ser usada na nossa sociedade se queremos mudar alguma coisa. Ou, como já disse, aceitamos que não queremos mudar nada. Talvez alguns até aceitem isso. Eu ainda não consigo aceitar, apesar de algumas vezes ter a sensação de estarmos enxugando um iceberg nos pólos da terra.
O principal obstáculo de se iniciar mudanças estruturais é que todas as medidas são de longo prazo e que não serão sentidas em um ou dois governos ou legislaturas. Outro obstáculo é que tratamos todos os nossos problemas sem lógica alguma em quase todos os momentos. E ainda há o obstáculo de nos escondermos demais do que somos e do que pensamos, de nossas fraquezas, angústias, vergonhas e maldades. O grande problema é que temos obstáculos demais e não conseguimos avistar vantagem pessoal alguma em superá-los. Pensar a sociedade e o Estado não tem sentido, não tem lógica, não tem razão. Ainda assim, alguma coisa tem que funcionar.
Por Rafael F. Vianna
Publicado no Jornal do Ônibus, no Jornal Correio Paranaense e no Jornal de Colombo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário