sábado, 26 de maio de 2012

Delegado Rafael Vianna profere palestra sobre carreira policial na Universidade Positivo e reflete sobre as últimas notícias da Polícia Civil


Durante o I Encontro de Encaminhamento Profissional promovido pelo Centro Acadêmico Ubaldino do Amaral, da Faculdade de Direito da Universidade Positivo, proferi uma palestra sobre a carreira policial, suas dificuldades, realizações e possibilidades. (http://www.cauaup.com.br/)
E hoje, diante de notícias e denúncias sobre desvios na Polícia Civil, não posso deixar de trazer algumas reflexões que estão sendo deixadas de lado. 
Gosto da carreira policial, apesar de não ser classista ou corporativista. Quem já leu meu livro, minhas colunas ou qualquer artigo que escrevi, sabe como trato de forma direta e objetiva os problemas que existem na polícia, suas agruras e dificuldades.
No entanto, quando apenas um lado começa a ser mostrado, quando pessoas que sempre estiveram prontas para atender um chamado (não importando o horário, o dia da semana ou o expediente que precisavam cumprir) começam a ser ameaçadas e crucificadas, precisamos refletir com maior cuidado.
Para isso, deixo o início da palestra proferida na Universidade Positivo, bem como dois artigos que demonstram um pouco a admiração que sinto por todos os bons policiais, sejam eles Delegados de Polícia, Investigadores, Escrivães, Agentes de Operações, Papiloscopistas, Policiais Militares, Policiais Federais ou Guardas Municipais.

PARA SER POLICIAL - palestra Rafael F. Vianna na Universidade Positivo
"Para ser policial você precisa ser curioso! Porque ser policial é filosofia, é dúvida, são certezas, reflexões, é medo, coragem, alegrias e tristezas. Ser policial é lutar pela justiça e se indignar com as injustiças, é aprender e se surpreender todos os dias; é conhecer o que há de pior e de melhor no ser humano.
Ser policial é se ver todos os dias diante de conflitos de deveres, é se defrontar com questões existenciais, é pensar e duvidar que alguma justiça é possível, é chorar diante da escolha do mal menor.
Ser policial não é apenas prender o homem mau, ainda que o seja, mas é aprender que nem sempre se prende o homem mau. 
Ser policial é se chocar com a tragédia humana e aprender que a segurança pública é uma das áreas mais complexas do conhecimento. Ser policial é resistir(...)"   

Desejo sinceramente que os bons policiais resistam, que a Polícia Civil resista, que não generalizem, não confundam, não cometam injustiças. Que tudo isso não sirva para desejos ou vinganças pessoais, mas que no final tenhamos uma sociedade mais próxima da polícia, para que todos possam refletir sobre os problemas e as possíveis soluções para a segurança pública. Não encontramos a origem de todo mal no mundo.
Ficam dois textos antigos para também refletirmos.

PAUSA PARA UMA JUSTA HOMENAGEM: AOS BONS POLICIAIS
Hoje me permito uma pausa nas dicas sobre como melhorar sua segurança para homenagear os bons policiais.
Tomei esta decisão hoje, domingo, dia em que costumo escrever minha coluna que é publicada na terça-feira, após trabalhar o dia inteiro ao lado de bons policiais. O hoje que digo, diga-se, na verdade é ontem, pois cheguei em casa apenas agora, 04 horas da madrugada de domingo para segunda. Ao meu lado, o dia inteiro, estiveram bons homens e grandes policiais. Outros tantos não estiveram hoje, mas em tantas outras oportunidades. Também é para eles que escrevo.
Observe-se que não pretendo com este artigo despertar pena ou compaixão de meus leitores, pois, além de não combinar comigo, nada mudará em minha vida ou na vida destes grandes homens. Escrevo para homenagear e agradecer, em nome de todos os cidadãos, pois me incluo entre eles, os grandes policiais que conheci.
Como já falei em diversas entrevistas, sempre existirão profissionais ruins na área de segurança pública, como em qualquer profissão, mas eles são, e sempre serão, a minoria.
A homenagem é justa e necessária, pois a grande maioria das pessoas reconhece e aplaude ações específicas de tropas de elite e grupos especiais, mas esquece da importância dos policiais que estão nos Distritos/Delegacias ou que fazem o policiamento ostensivo básico.
São estes policiais os mais importantes para a segurança pública e, consequentemente, para a sociedade, pois são eles que conhecem a região, suas dificuldades e suas necessidades. São estes policiais que prestam o primeiro atendimento ao cidadão e são estes homens que tantas vezes resolvem problemas não relacionados diretamente com a segurança pública, orientando, auxiliando e encaminhando.
É este policial que não recebe a designação de “especial” o verdadeiro herói da segurança pública, pois trabalha com as dificuldades e perigos das situações mais corriqueiras e anormais, sem nunca saber o que lhe espera e o que enfrentará.
Ressalte-se que de forma alguma menosprezo ou diminuo os grupos ou tropas especiais, os quais tem qualidades e importância incomparável para situações específicas, mas enobreço a função do policial dito comum.
Estes bons policiais trabalham muito mais do que suas horas obrigatórias, se preocupam muito mais do que deveriam, arriscam suas vidas muito mais do que a prudência recomendaria. No entanto, apenas este policial sente o prazer de salvar uma vida, impedir uma injustiça ou fazer com que o algoz não consiga prevalecer sobre um pai de família. Não há recompensa maior.
Por fim, agradeço os grandes momentos, as risadas, as amarguras e decepções deste bom tempo como policial. Sem nomes, por falta de espaço e pelo risco da ausência, mas com satisfação de ter conhecido homens extraordinários, policiais civis e militares.

PAUSA PARA A DESPEDIDA: MUDANÇA DE EQUIPE NO DP DE ALTO MARACANÃ
Foi um ano de trabalho intenso e árduo na Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo. Bons momentos, muitas lembranças, algumas tristezas e decepções, mas muito aprendizado. Este pode ser o resumo pessoal que levo deste um ano. Uma nova equipe assumirá o DP Alto Maracanã esta semana, sendo que, desde já, deixo meus votos de boa sorte e bom trabalho.
Neste ano que estive como delegado titular do Alto Maracanã consegui realizar muito menos do que planejava, mas considero que algumas metas foram atingidas, ainda que longe do ideal para a população viver em segurança e tranquilidade. De qualquer forma, minha equipe realizou muito mais do que o possível, só me restando agradecer a boa vontade de todos os policiais que comigo trabalharam.
Ainda que enfadonho para alguns, volto a parabenizar e destacar o caráter e o esforço dos policiais civis que neste um ano estiveram comigo. No início era apenas um amigo, o delegado adjunto André, hoje juiz, mas que sempre me fez continuar. Ao longo do tempo, muitas amizades se formaram, tendo hoje grandes amigos: meu superintendente, os gordinhos, o pernambucano, os negões….
O que nos une é o que nos resta. E o que nos resta Vinícius de Morais? Resta essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido, essa tola capacidade de rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil e essa coragem de comprometer-se sem necessidade. Resta esse desejo de servir, essa contemporaneidade com o amanhã dos que não tem ontem nem hoje. Resta essa faculdade incoercível de sonhar, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como ela é. Resta, por fim, esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir.
Isso que nos une, bons amigos, também nos mata, um pouco a cada dia, sem que possamos perceber e nos livrar. Tudo que escrevo deveríamos seguir também. E quantas vezes, caros leitores, já não falei que segurança pública começa dentro de casa, com a proximidade com seus familiares, com conversas e confiança?
Pois é. Nós policiais não fazemos isso. Raramente temos tempo para nossas famílias e nos esquecemos de viver os bons momentos. Não deixem que isso aconteça com vocês bons policiais e amigos. Cuidem da saúde, da família, dos bons hábitos, das boas coisas da vida. Só assim vocês poderão servir por um longo tempo à sociedade. Difícil, eu sei. Mas devemos tentar. Apesar da aventura e prazer que é ser polícia.
Se valeu a pena? Sempre. Tenho certeza que não pudemos satisfazer e ajudar a todos, mas tentamos, com o que tínhamos de melhor. Não houve um só dia em que não estivemos na Delegacia, fosse sábado, domingo ou feriado, noite ou dia. Ajudamos muitos e tentamos sempre. Aprendemos a fazer o bem não pelo prazer da recompensa, mas pelo dever da consciência.
Como sempre falei para vocês: encontrei vários loucos que como eu não sabem o porquê servir, mas servem e riem. Valeu pelas risadas, pelas desventuras, pelos bons e maus momentos. Obrigado a todos que de alguma forma participaram disto. Comecemos em um novo lugar.

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